Por Shaka Kama-Hari
A figura religiosa de Jesus não se conteve apenas ao cristianismo, expandindo-se por todas as religiões do mundo. Seus ensinamentos muitas vezes são mais importantes que sua própria pessoa. Sendo reconhecido desde um simples profeta até uma encarnação de Deus, Jesus está envolvido dentro da doutrina das diversas religiões. Visto que tanto a vida do santo quanto sua ideologia toca profundamente a mente de cada ser humano, é impossível não deixar se influenciar pela mensagem de Jesus, mesmo não acreditando na sua santidade; até porque, antes de ser voltada para a vida após a morte, os ensinamentos do Cristo são voltados para a caminhada do ser humano ainda em vida.
Jesus no Judaísmo
A maioria dos judeus vê Jesus como um transgressor da lei e um dos vários revolucionários da época que contestaram a ordem social como Menahem ben Judah e Simão bar Kokhba e que foram condenados à morte pelo Império Romano. Muitos contestam o caráter messiânico de Jesus, visto que ele não cumpriu algumas profecias para os judeus, dentre as quais a que fala que o Messias só viria após a construção do terceiro templo de Jerusalém (visto que o segundo foi destruído pelos romanos). Para os judeus, Jesus não ressuscitou, uma vez que, segundo eles, os discípulos roubaram o corpo do túmulo enquanto os soldados dormiam, e espalharam a notícia da ressurreição.
Outro fator de crítica é a mitificação de Jesus, vista pelos judeus como uma paganização do judaísmo, onde Jesus tornou-se um deus pagão dentro da crença judaica. Já outros judeus vêem a figura de Jesus como sendo mais um dos profetas enviados por Deus para restaurar o judaísmo, corrompido pelos pagãos. Entretanto, há um ramo do Judaísmo que reconhece em Jesus o tão esperado Messias. Esse ramo é chamado Judaísmo Messiânico. Os judeus messiânicos reconhecem a figura de Jesus como o Messias judeu, mas observam todos os preceitos da doutrina judaica. Entretanto, o governo de Israel não os reconhecem como uma seita judaica, classificando-os como cristãos.
Jesus no Islamismo
Maomé ora com Abraão, Jesus e Moisés
No Islã, Jesus toma um papel fundamental no plano de Deus para os homens. Ao elaborar a doutrina Islâmica, Mohammed incluiu aspectos do Judaísmo, Cristianismo e Zoroastrismo, visto que Meca - cidade onde ele vivia - era um ponto comercial, o que também fazia da cidade um pólo cultural. Assim, entrando em contato com diversas ideologias, Mohammed elaborou os preceitos do Islã. Um desses preceitos diz relação aos profetas, os enviados de Deus: Mohammed traçou uma linhagem profética que começava com Adão e terminava nele. A maioria dos profetas do Islã são judeus, como Moisés, Elias, João Batista e o próprio Jesus. Jesus no Islã é tido como um dos mais importantes profetas, rivalizando com Mohammed. Segundo o Islã, Jesus é muçulmano. A prova disso está nos evangelhos, quando Jesus pede que seja feita a vontade de Deus, não a dele. Uma vez renunciando a vontade humana para se submeter à vontade de Deus, a pessoa é tida como muçulmana.
Dependendo do ramo Islâmico, Jesus é mais que um profeta: ele é tido como o Messias. Para o ramo Xiita Jesus não é o Messias, visto que o Messias ainda viria, como dizem os judeus. Jesus seria apenas mais um dos profetas que Deus enviou. Já para o ramo Sunita Jesus, além de profeta, é o Messias que Deus enviou, e que no fim dos tempos voltará para que ocorra o Juízo Final. Entretanto, os muçulmanos como um todo não acreditam na ligação divina entre Deus e Jesus, vendo no dogma da trindade uma criação da Igreja, inspirada em tradições pagãs.
Em vários trechos do Alcorão Jesus é citado como sendo um grande mensageiro de Deus. A seita Sufi dos Dervixes chama Jesus de "Seiydna Issa", o Senhor Jesus, uma expressão não ligada à filiação divina de Jesus, mas à autoridade que vem de seus ensinamentos, transformando-o num porta-voz de Deus.
A seita Islâmica dos Ahmadis prega que Jesus não morreu na cruz, sendo Judas condenado em lugar do Mestre, haja visto as condições quase que impossíveis para a condenação de Jesus, devido a uma acusação sem fundamentos dos sacerdotes, o que impossibilitaria a aplicação da pena de morte.
Jesus no Budismo
O budismo, como vimos, influenciou a ideologia de Jesus, a ponto dos ensinamentos de Jesus serem comparados aos de Siddhartha. Sob o ponto de vista budista Jesus é um ser Iluminado, um Buda, assim como ele é tido como o Cristo (ungido por Deus) pelos cristãos. Algumas correntes budistas defendem que ele estudou com monges durante sua juventude, construindo a base para os seus futuros ensinamentos, dada a similaridade da sua mensagem com a do Budismo. Outro fato que os budistas defendem é o caráter meditativo de Jesus que, assim como Buda, se retirava frequentemente para meditar. Este ato tão simples é uma característica das religiões orientais, visto que no Judaísmo geralmente as pessoas iam para a sinagoga orar a Deus. Segundo os budistas, assim como Siddhartha, numa dessas meditações Jesus atingiu a Iluminação, tornando-se um Buda, após vencer o demônio (o opositor) no deserto.
Como vimos, existem representações de um Buda como sendo o "Bom Pastor". Como o Buda histórico não possui nenhuma ligação simbólica neste sentido, é certeza que os monges budistas cultuavam Jesus como um Buda. Algumas escolas budistas estudam os ensinamentos de Jesus juntamente com os de Buda, visto que a meta de ambos era remover os obstáculos da vida espiritual dos homens. Atualmente tenta-se encontrar um ponto em comum entre a espiritualidade cristã e a budista, o que está gerando uma campanha ecumênica pelo mundo.
Jesus no Hinduísmo
No Hinduísmo Jesus tem uma visão mais ampla dentro da doutrina. Várias correntes hindus aceitam a figura de Jesus como sendo um Avatar, encarnação de Deus na Terra. Similar ao que acreditam os budistas, para os hindus Jesus também foi um iniciado na filosofia Védica. Para muitos hindus Jesus é uma das encarnações de Vishnu, a segunda pessoa da Trindade hinduísta. Especialmente para o movimento Hare Krishna - devido ao seu caráter ecumênico - Jesus é uma manifestação direta de Krishna (Deus), que envia um mensageiro para cada povo, afim de que nenhuma parte do mundo fique sem a Sua mensagem. Assim, Jesus é um dos enviados de Krishna para cumprir Sua mensagem pelo mundo. Uma das provas alegadas disso é o caráter biográfico muito próximo entre Krishna e Jesus, e principalmente os ensinamentos, que muitas vezes possuem trechos idênticos.
Vários aspectos e simbolismos da crença cristã, como o batismo nas águas do Jordão feito por João Batista e Jesus, segundos os hindus, é prova que tanto João quanto Jesus praticavam rituais de purificação védicos, visto que no Judaísmo este tipo de ritual não existia, sendo ele característico da religião hindu, onde até hoje vários peregrinos vão se banhar nas águas do Ganges para se purificar. Outras características, como rituais do fogo, o caráter trinitário do cristianismo e o dogma da encarnação são indícios de que o cristianismo foi influenciado pelo hinduísmo.
Jesus na Fé Bahá’í
A Fé Bahá’í é uma religião ecumênica que surgiu na Pérsia, atual Irã, em 1844. Criada pelo profeta Mírzá Husayn'Ali, intitulado o Bahá’u’lláh (Glória de Deus, em árabe) a Fé Bahá’í propunha ser a continuação do Islã, sendo que agora a nova religião traria uma nova mensagem: Deus é um só em todas as religiões, e Ele manda diversos mensageiros para todos os povos da Terra. Unindo os principais preceitos monoteístas do Islã com as mensagens das diversas religiões, a Fé Bahá’í tornou-se uma religião para os tempos modernos. Assim como o Islã, a Fé Bahá’í possui uma linhagem de profetas, entretanto, não mais se contendo à linhagem abraâmica do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, adotando outros profetas como Krishna, Buda, Zoroastro e o próprio Bahá’u’lláh. Entre esses profetas encontra-se Jesus, que na Fé Bahá’í é tido como um dos Messias enviados ao mundo por Deus.
Devido ao caráter ecumênico, vários textos sagrados, inclusive os evangelhos, são lidos nas Casas de Oração, o Templo Bahá’í. A Fé Bahá’í não possui clero nem rituais, sendo os encontros nas Casas de Oração momentos para a leitura e reflexão dos textos sagrados. Para os Bahá’ís apenas a união dos homens pode acabar com os conflitos no mundo, por isso a Fé Bahá’í propõe a unidade religiosa e política do mundo, para cumprir do desejo de Jesus de "que todos sejam um" (João 17:21).
Jesus no Jainismo
O Jainismo é uma religião dharmica que surgiu por volta do Séc. X a.C. na Índia, com Mahavira, o Conquistador. O curioso dessa religião é que a história de Mahavira se confunde com a de Buda, pois ambos foram ascetas que se libertaram das paixões do mundo. Praticamente todos os ensinamentos budistas são encontrados no Jainismo. O principal ensinamento jainista é a "não-violência", onde, segundo seus adeptos, todas as formas vivas devem ser respeitadas, pois todas têm sua origem divina. Engraçado que esta mesma "não-violência" jainista foi utilizada por Mahatma Gandhi durante a Independência da Índia, o que fez com que Gandhi seja tido como um herói jainista.
No Jainismo Jesus é tido como um Jina, palavra que em sânscrito significa "vencedor" ou "conquistador". Simbolicamente é o equivalente à palavra Buda e Cristo. Por sua doutrina e modo de vida, Jesus é tido como um "conquistador", visto que o próprio diz que "venceu o mundo" (João 16:33). Sob o ponto de vista hindu, budista e jainista, esta expressão significa que Jesus se libertou das paixões do mundo. Tornou-se um "Conquistador", um "Iluminado".
Jesus no Caodaísmo
Caodaísmo ou Cao Dai é uma religião sincrética que surgiu no Vietnã em 1926, por Ngo Van Chieu. Segundo o Caodaísmo só existe um Deus, cujo nome é Duk Cao Dai. Seu símbolo é um olho esquerdo inserido num triângulo. Segundo eles, Deus inspirou a criação das diversas religiões no mundo, mandando vários mensageiros. A missão do Caodaísmo é semelhante a da Fé Bahá’í, que é unir a humanidade numa única crença, e assim construir a paz mundial. Na doutrina caodaísta o envio dos mensageiros por Deus é divido em três estágios: Jesus foi enviado no segundo período junto com Buda, Confúcio e Lao-Tsé. Jesus é tido como um ser divino, embora esteja abaixo de Duk Cao Dai, assim como os demais mensageiros. Semelhante à Fé Bahá’í, no Caodaísmo a mensagem de Deus para os homens é uma só, embora seja explicada de modo diferente para os homens devido à sociedade a que estes mensageiros foram enviados. Por isso o conteúdo da mensagem de Jesus é igual em essência ao dos demais enviados.
Devido ao seu caráter ecumênico, o Caodaísmo inclui aspectos das demais religiões, assim como seus fundadores. No panteão caodaísta, junto com Jesus encontram-se Buda, Lao-Tsé, Confúcio e outros santos da tradição chinesa e vietnamita. Ao contrário da Fé Bahá’í, o Caodaísmo possui uma hierarquia religiosa semelhante a da Igreja Católica, com padres, bispos, cardeais e até papa, mas possuindo rituais próprios.
Jesus no Movimento Rastafári
O Movimento Rastafári foi criado na Jamaica por volta de 1930. Segundo eles, o imperador etíope Hailé Selassié é a reencarnação de Jesus. A origem divina de Selassié remota ao tempo de Salomão, visto que ele realmente era descendente do rei de Israel, e por fim de Davi. Salomão teve vários romances, inclusive com a famosa Rainha de Sabá, onde tiveram um filho chamado Menellek. Mais tarde a Rainha voltaria a sua terra de origem com seu filho, que por fim se tornaria o primeiro imperador etíope.
Nascido como Ras (Príncipe) Tafari (da Paz) Makonnen (nome da família de Selassié), ao assumir o trono o 225º imperador da Etiópia adotou o nome Hailé Selassié, que significa "O Poder da Trindade", em etíope.
Para os Rastas, Hailé Selassié é a encarnação de Jah (Deus). A palavra Jah vem do tetragrama sagrado YHWH, que está presente na palavra hebraica HalleluJah, que significa "Louvem ou Adorem a Deus". Dela veio a palavra "Aleluia". Para os Rastas Selassié cumpriu as profecias judaicas sobre a volta do Messias judeu, até mesmo sobre o 2° advento do Cristo, visto que ele é tido como a reencarnação de Jesus. Devido às suas origens judaicas, o Movimento Rastafári prega a volta dos descendentes de Davi à "Terra Prometida", que nesse caso é a África, visto que, segundo os rastas, os verdadeiros hebreus eram negros. Por esse motivo o Movimento Rastafári atrai muitos afrodescendentes, e tem crescido muito ultimamente devido ao gênero musical reggae. Curiosamente, a maioria dos semitas realmente são de pele escura, logo Jesus deveria ser no mínimo moreno (e não o clássico Jesus de pele clara, loiro e de olhos azuis que cansamos de ver pela nossa sociedade ocidental). Dentre os títulos de Selassié estão "Leão da Tribo de Judá", "Rei dos Reis" e "Senhor dos Senhores", os mesmos que Jesus recebeu.
Jesus no Movimento Nova Era
Derivante da Teosofia, o Movimento Nova Era tem suas bases no esoterismo e no gnosticism,o e propõe uma união entre a espiritualidade ocidental e oriental. Ele começou a partir dos anos 60, com a vinda das tradições orientais para o ocidente. Teve início nos EUA e Europa, ganhando mais força durante os anos 70 e 80 e se espalhando pelo mundo. Para os adeptos deste movimento, o mundo está vivendo o fim da Era de Peixes, que é a era de Jesus (o símbolo de Jesus era o peixe). Antes dessa era vieram a Era de Touro (Simbolo de Krishna), Áries (Símbolo de Moisés) e Libra (Símbolo de Siddhartha). Após a Era de Peixes iniciar-se-á a Era de Aquário, a chamada Nova Era. Para o movimento, Jesus é um dos Mestres espirituais do mundo, e está dentro de uma consciência maior, a qual chamam de Brahman (Deus, no hinduísmo). Assim, ele não é uma encarnação de Deus, mas uma emanação da consciência maior, que tem como missão levar a Luz aos homens.
Para a Nova Era Jesus é a encarnação de Krishna e de Siddhartha, visto que suas biografias, ensinamentos e a missão messiânica são compartilhados por ambos. E mais, com o fim da Era de Peixes - e iniciando a Era de Aquário - o mundo precisará de um novo Mestre, que nesse caso será o Cristo (Buda) Maitreya, que governará o mundo nessa nova era de consciência. Assim, ao acabar a Era de Peixes, Jesus deixará de ser o Cristo, e um novo surgirá, o tão esperado Messias pelos judeus, o Iman Mahdi para os muçulmanos, o Saoshyant zoroastra, o Maitreya budista e o Kalki hindu.
Jesus no Movimento Raeliano
Eram os deuses astronautas; pelo menos é o que diz o livro de Erich von Däniken e o Movimento Raeliano. Este último começou em 1974, quando o jornalista francês Claude Vorilhon recebeu a revelação dos Elohim (Aqueles que vêm do alto) de que nada mais eram que extraterrestres. Segundo Vorilhon, ele foi visitado por Jesus, Siddhartha, Moisés e Mohammed, que lhe revelaram que não existe nenhum deus, e que os deuses e profetas das religiões nada mais eram que extraterrestres vindos de outro planeta para orientar a humanidade como viverem neste mundo criado por eles. Para o Movimento Raeliano, a única explicação para os milagres das religiões é o fato de todos esses acontecimentos sobrenaturais serem obra de uma avançada tecnologia extraterrestre. Por exemplo, a fecundação de Maria seria uma inseminação artificial, os milagres de Jesus seriam devido à capacidade mental superior dos E.T.s e a ascensão aos céus seria a volta de Jesus à sua nave, afinal, não é todo dia que vemos alguém subindo aos céus em direção a uma nuvem luminosa.
Para Raël (nome que Vorilhon adotou após a revelação e de onde vem o nome do movimento) a humanidade é fruto da clonagem dos Elohim, por isso uma justificativa literal para o versículo "Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher." (Genesis - 1:27). Outro fato que justifica a visão de Deus como sendo um E.T. é o fator profecias e visões. No Antigo Testamento, o próprio Deus apresenta-se em sua glória movendo-se numa espécie de veículo de luz, no Livro de Ezequiel, o que contradiria a visão de Deus como onipresente, uma vez que o mesmo precisaria de um "automóvel", mais precisamente uma nave, segundo o Raelianismo. Para o movimento, a maioria das teorias ufológicas têm sua confirmação nas próprias escrituras. A própria visão do Apocalipse é uma das provas alegadas do fato de Jesus ser um extraterrestre, pois o mesmo diz que voltará entre as nuvens em sua glória e toda a Terra o virá no dia do Juízo. Isso nada mais seria do que uma invasão de naves na Terra, onde Jesus tornar-se-ia o governante do mundo, assim como foi dito nas profecias.
Como vimos, Jesus é visto pelas religiões desde um profeta, passando por um extraterrestre até um Deus encarnado. Mas um ponto comum entre todas essas visões muitas vezes antagônicas é o fato de sua missão ser comum, levar a Boa Nova aos homens, que, por meio da sua mensagem - seja ela canônica ou apócrifa - torna o homem uma pessoa melhor, fazendo-o nascer de novo. Se Jesus é divino ninguém poderá provar, entretanto até hoje ele é um mistério para todos, o que faz com que existam diversas interpretações acerca de sua pessoa. Por mais que as pessoas tentem definir uma imagem exclusiva do judeu mais importante da história, a vontade do mesmo é que cada um encontre e acolha sua mensagem da maneira que fará a pessoa se sentir melhor. Seja tendo-o como um profeta, seja como um mestre espiritual, seja como um Deus.
Direto do Saindo da Matrix.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
JESUS, DE PROFETA A ENCARNAÇÃO DE DEUS
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Slow Food
O Slow Food é uma associação internacional sem fins lucrativos fundada em 1989 como resposta aos efeitos padronizantes do fast food; ao ritmo frenético da vida atual; ao desaparecimento das tradições culinárias regionais; ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação, na procedência e sabor dos alimentos e em como nossa escolha alimentar pode afetar o mundo.
O movimento internacional Slow Food começou oficialmente quando representantes de 15 países endossaram este manifesto, escrito por um dos fundadores, Folco Portinari, em 09 de Novembro de 1989.
"O nosso século, que se iniciou e tem se desenvolvido sob a insígnia da civilização industrial, primeiro inventou a máquina e depois fez dela o seu modelo de vida.
Somos escravizados pela rapidez e sucumbimos todos ao mesmo vírus insidioso: a Fast Life, que destrói os nossos hábitos, penetra na privacidade dos nossos lares e nos obriga a comer Fast Food.
O Homo sapiens, para ser digno desse nome, deveria libertar-se da velocidade antes que ela o reduza a uma espécie em vias de extinção.
Um firme empenho na defesa da tranqüilidade é a única forma de se opor à loucura universal da Fast Life.
Que nos sejam garantidas doses apropriadas de prazer sensual e que o prazer lento e duradouro nos proteja do ritmo da multidão que confunde frenesi com eficiência.
Nossa defesa deveria começar à mesa com o Slow Food. Redescubramos os sabores e aromas da cozinha regional e eliminemos os efeitos degradantes do Fast Food.
Em nome da produtividade, a Fast Life mudou nossa forma de ser e ameaça nosso meio ambiente. Portanto, o Slow Food é, neste momento, a única alternativa verdadeiramente progressiva.
A verdadeira cultura está em desenvolver o gosto em vez de atrofiá-lo. Que forma melhor para fazê-lo do que através de um intercâmbio internacional de experiências, conhecimentos e projetos?
Slow Food garante um futuro melhor.
Slow Food é uma idéia que precisa de inúmeros parceiros qualificados que possam contribuir para tornar esse (lento) movimento, em um movimento internacional, tendo o pequeno caracol como seu símbolo."
Folco Portinari, em 09 de Novembro de 1989.
Bom, limpo e justo: é como o movimento acredita que deve ser o alimento. O alimento que comemos deve ter bom sabor; deve ser cultivado de maneira limpa, sem prejudicar nossa saúde, o meio ambiente ou os animais; e os produtores devem receber o que é justo pelo seu trabalho.
Somos Co-produtores e não simples consumidores, pois tendo informação sobre como nosso alimento é produzido e apoiando efetivamente os produtores, nos tornamos parceiros no processo de produção.
Saiba mais sobre Slow Food, acesse: http://www.slowfoodbrasil.com/
sábado, 22 de agosto de 2009
Uma parábola de Buda
Certa vez, disse o Buddha uma parábola: Um homem viajando em um campo encontrou um tigre. Ele correu, o tigre em seu encalço. Aproximando-se de um precipício, tomou as raízes expostas de uma vinha selvagem em suas mãos e pendurou-se precipitadamente abaixo, na beira do abismo. O tigre o farejava acima. Tremendo, o homem olhou para baixo e viu, no fundo do precipício, outro tigre a esperá-lo. Apenas a vinha o sustinha.
Mas ao olhar para a planta, viu dois ratos, um negro e outro branco, roendo aos poucos sua raiz. Neste momento seus olhos perceberam um belo morango vicejando perto. Segurando a vinha com uma mão, ele pegou o morango com a outra e o comeu.
"Que delícia!", ele disse.
Alguém tem idéia do que essa parábola significa?
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Uma xícara de Chá
Nan-In, um mestre japonês da era Meiji (1868-1912), recebeu um professor de universidade que veio lhe inquirir sobre o Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas. Nan-In, enquanto isso, serviu o chá. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda.
O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse:
"Está muito cheio! Não percebe que não cabe mais chá?"
"Como esta xícara" Nan-in disse, "você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?"
domingo, 9 de agosto de 2009
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Entender o Zen
Antes de entendermos o Zen, as montanhas são montanhas e os rios são rios;
Ao nos esforçarmos para entender o Zen, as montanhas deixam de ser montanhas e os rios deixam de ser rios;
Quando finalmente entendemos o Zen, as montanhas voltam a ser montanhas e os rios voltam a ser rios.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Frases de Mahatma Gandhi
"Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados."
"Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma. Como o corpo que se lava não fica sujo, sem oração se torna impuro."
"Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição."
"Só existem dois dias do ano em que não podemos fazer nada. O ontem e o amanhã."
"Aquele que não é capaz de se governar a si mesmo não será capaz de governar os outros."
"O melhor modo de encontrar a si mesmo é se perder servindo aos outros."
"O bem permanente não pode nunca ser o resultado da mentira e violência."
"A bondade deve estar ligada ao saber. A simples bondade pouco adianta; é o que tenho constatado."
"Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo."
"A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados."
"A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte."
"A regra de ouro consiste em sermos amigos do mundo e em considerarmos como uma toda a família humana. Quem faz distinção entre os fiéis da própria religião e os de outra, deseduca os membros da sua religião e abre caminho para o abandono, a irreligião."
"Acreditar em algo e não o viver é desonesto."
"A força não provém de uma capacidade física e sim de uma vontade indomável."
"Deus não tem nenhuma religião."
"Quando alguém compreende que é contrário à sua dignidade de homem obedecer a leis injustas, nenhuma tirania pode escravizá-lo."
"A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita."
"Você deve ser a mudança que você deseja ver no mundo."
"Olho por olho e o mundo acabará cego. "
"O fraco jamais perdoa, o perdão é característica do forte."
"Posso ser uma pessoa desprezível, mas quando a verdade fala em mim, sou invencível."
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Ações Pró-Saúde
:: Conceição Trucom ::
Aaron Antonovsky divulgou em 1979 o modelo que valoriza os fatores que geram saúde: a salutogênese. Este modelo se opõe ao modelo biomédico da patogênese, que foca as causas das doenças. Segundo Antonovsky, e as medicinas milenares como Ayurvédica e Tradicional Chinesa, quando potencializamos as forças que aumentam a saúde e se opõem ao estímulo causador de doenças, torna-se possível evitar, em muitas situações, doenças, acidentes, perdas e sofrimentos.
Fatores de proteção à saúde
O modelo da salutogênese (saluto=saúde + gênese=que gera) e os resultados das pesquisas sobre psiconeurimunologia vêm motivando cada vez mais pesquisadores na busca de fatores que protegem e favorecem a saúde. Deste modo, ativou-se um ramo da pesquisa, mais feliz e menos opressor, que durante muito tempo permaneceu na sombra: a capacidade para o prazer, com senso de coerência pela própria viva e saúde global.
Senso e atitudes de coerência
No modelo de saúde de Antonovsky importa a maneira de lidar com as influências e desafios da vida, que põem em risco a saúde como um todo. São agentes biológicos (microorganismos), químicos (tóxicos, alergênicos) e psicossociais (perdas de um ente querido ou trabalho, pressão para desempenho). Tais agentes são denominados "estressores", que desestabilizam o equilíbrio do organismo. Para o restabelecimento do equilíbrio e da saúde são necessárias atividades apropriadas. Os principais estressores psicossociais:
. Crônicos: como na forma de pressão prolongada para desempenho, subestimulação ou solidão;
. Fatos existenciais maiores: como a morte de uma pessoa próxima, perda do trabalho ou divórcio;
. Aborrecimentos cotidianos: como brigas com vizinhos, filhos, serviços de atendimento ao cliente, congestionamento no trânsito ou filas.
Esses estressores desenvolvem um estado de tensão que é acompanhado de determinados sentimentos e reações físicas. Cada desafio pode ser vivenciado com sensações de, por exemplo: a) irritação, impotência, frustração e mágoa ou b) compreensão, superação, oportunidade, ganho de experiência.
Ainda que vivenciando distintamente, deve-se partir do ponto de vista de que estamos expostos a fatores do estresse constantes e dificilmente podemos evitá-los. Mesmo no mais favorável e agradável ambiente, estamos sempre sendo submetidos a experiências que podem atuar como estressores. Por essa razão, a questão decisiva gira em torno de como as pessoas lidam com seus desafios e conseguem o domínio dos estados de tensão emocional e orgânica de maneira construtiva.
A maneira de dominar depende, em grande parte, de quais recursos uma pessoa pode lançar mão. Antonovsky denomina-os recursos gerais para resistência:
. consciência de saúde que se baseia em medidas profiláticas; como, por exemplo, buscar atividades saudáveis (lazer, esportes, meditação, terapia do riso) e fazer exames periódicos de prevenção;
. recursos gerais de resistência fisiológicos e bioquímicos, como um sistema imune bem funcionante (meditação, alimentação desintoxicante, terapia do riso);
. meios de ajuda materiais, como dinheiro ou a disponibilidade sobre bens e empregados;
. aptidão cognitiva individual, como conhecimento e inteligência: ler, estudar, buscar aprender e aprofundar sempre, além de rir e atividade física;
. recursos gerais de resistência emocional, como autoconfiança e amor-próprio: meditação, alimentação desintoxicante, terapia do riso e atividade física;
. pensamento positivo marcado, como maior racionalidade, flexibilidade e previsões: meditação, alimentação desintoxicante, terapia do riso e atividade física;
. retaguarda humana, ou seja, contato confiante, satisfatório e solícito com os outros: terapia do riso, rede de relacionamentos;
. identificação com uma cultura social, uma religião ou filosofia. Conhecer bem cada opção para fazer boas escolhas.
Antonovsky interessava-se em saber se esses recursos gerais de resistência poderiam ser ainda mais resumidos. Sua análise dos pontos em comum dos inúmeros recursos gerais de resistência o levou ao conceito de senso de coerência. O termo, de origem latina, significa o mesmo que "coesão", ou seja, não dispersão. Caracteriza-se, principalmente, por três componentes:
Compreensibilidade: refere-se à amplitude com que as dificuldades cotidianas são vivenciadas como parte do sentido, se são exequíveis e perceptíveis.
Superabilidade: sob este termo entende-se o quanto alguém se julga capaz de vencer desafios, contando com as aptidões e a ajuda disponíveis.
Signifícância: aqui está em questão o quanto a vida tem um sentido emocional. A significância se refere, pois, à maneira pela qual problemas e exigências da vida são vivenciados, para compensar a luta por eles.
O importante também aqui é a percepção e a interpretação dos encargos e desafios da vida (estressores). São três níveis de interpretação dos estressores:
Interpretação de nível 1: Pessoas com um forte senso de coerência não sentem os estressores como uma sobrecarga. Permanecem descontraídas ou encaram os estressores como interessantes desafios.
Interpretação de nível 2: Aqui ocorre uma avaliação se a situação considerada um estressor é negativa, positiva ou indiferente para o bem-estar geral. Uma pessoa com forte senso de coerência chegaria com mais intensidade a uma interpretação positiva ou a considerá-lo insignificante.
Interpretação de nível 3: Aqui a pessoa se defronta com condições concretas de estresse e seu forte senso de coerência favorece uma interpretação mais clara e diferenciada da situação de sobrecarga. Os sentimentos desencadeados são igualmente mais claros, menos difusos e, com isso, menos entorpecedores. Como também situações difíceis são vistas como compreensíveis e significativas, existe uma base de motivação mais favorável para ser superada.
Qual a forma de atuação sobre o corpo e a saúde? Que "pontes" há entre o corpo e a psique?
Antonovsky apresenta para a solução desta questão um modelo semelhante àquele adotado por Ohm (1990). Supõem-se dois tipos de interações psicofisiológicas:
. Pessoas com um forte senso de coerência tendem a "superar" situações difíceis sem causar danos à sua saúde como tabagismo, álcool, ingestão excessiva de alimentos e drogas. Têm recursos mais eficientes e saudáveis para combater a tensão e superar seus desafios.
. A segunda "ponte" entre psiquismo, comportamento e corpo situa-se em determinados processos orgânicos, onde, eletricamente, o senso de coerência provoca um estado de ânimo favorável, que, por sua vez, atua em determinadas reações do cérebro de forma positiva no sistema imune.
Finalizo este texto com algumas frases valiosas:
- O riso é a menor distância entre duas pessoas, como também a menor distância entre o desafio e sua solução.
- O riso em companhia tem uma função de reforço grupal, porque os participantes, por meio do bom-humor, se mostram mais unidos e destemidos diante dos perigos.
- Enquanto na sobrevivência a freqüência emocional predominante é o medo, na superação a freqüência predominante é o amor. Mas, a luz no fim do túnel é que: cada medo tem seu oponente no riso e bom-humor.
- A liberdade da interpretação nos torna possível perceber perspectivas surpreendentes, inclusive, absurdos que fazem parte de muitos dos nossos problemas e conflitos.
- O bom-humor rompe caminhos rígidos, preestabelecidos e une diversos planos e sistemas de raciocínio. Ou seja, nos torna mais inteligentes, acessíveis e inspirados.
Fontes: Quero viver num planeta que RI - Conceição Trucom - livro eletrônico /Rir, Amar e Viver Mais - Dietmar Ohm - Editora Paulinas /O poder do Riso - Mariana Funnes - Editra Ground.
Direto do Somos Todos Um.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
um dedo apontando o caminho
Quando curiosamente te perguntarem, buscando saber o que é Aquilo,
Não deves afirmar ou negar nada.
Pois o que quer que seja afirmado não é a verdade,
E o que quer que seja negado não é verdadeiro.
Como alguém poderá dizer com certeza o que Aquilo possa ser
Enquanto por si mesmo não tiver compreendido plenamente o que É?
E, após tê-lo compreendido, que palavra deve ser enviada de uma Região
Onde a carruagem da palavra não encontra uma trilha por onde possa seguir?
Portanto, aos seus questionamentos oferece-lhes apenas o silêncio,
Silêncio – e um dedo apontando o Caminho.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Deus no budismo
O Buda, muito longe de negar que havia um Absoluto, garantiu que aqueles que alcançassem a iluminação deveriam se fundir com Isso e assim perceber a Realidade em oposição ao mundo das ilusões e dos fenômenos. O que ele realmente disse, contudo, que tem levado pessoas a acusarem-no de ateísmo, é que não temos nenhum meio de expressar qualquer coisa sobre Isso. Palavras pertencem ao universo dos fenômenos e são aplicáveis apenas à ele. Quando alguém vai além dos fenômenos, em direção à Realidade, palavras precisam obrigatoriamente ser deixadas para trás. Nenhum ensinamento, nenhuma descrição, nenhum pensamento podem expressar o Absoluto -- mas podemos experimentá-lo, se suficientemente evoluídos.
O que Buda combateu foram as numerosas tentativas que foram feitas, estão sendo feitas e continuarão a ser feitas, de dizer que o Absoluto é isso ou aquilo, um Deus pessoal, um Criador, um Deus-Pai. Ele insistentemente recusou responder qualquer pergunta sobre o assunto porque isso era inexprimível em palavras. Ele não iria permitir a seus discípulos imaginar um Absoluto a semelhança deles, como é a tendência do homem em todo lugar. Ele assinalou sutilmente que é melhor se ajustar para tentar alcançar a iluminação e, assim, experimentar o Absoluto por si próprio, em vez de perder tempo tentando ineficazmente falar sobre isso, já que nada que possa ser dito sobre Isso pode ser verdade em absoluto. Palavras iriam inevitavelmente modificá-Lo e moldá-Lo, resultando no máximo em uma aproximação grosseira. Palavras podem ser verdadeiras apenas em certo nível, mas apenas nesse nível, portanto serão apenas verdades relativas. Assim, como um entendimento que só funciona por meio de palavras pode conter o que não pode ser colocado em palavras? Apenas pela experiência direta.
Se esse fato tivesse sido assimilado, às custas do orgulho humano, teria havido muito menos intolerância, violência e sofrimento cometidos em nome da religião, entre os vários adeptos de seus seus próprios credos; todos afirmando de maneira confiante e dogmática que somente eles receberam a Verdade e que todos os outros estão errados e devem ser salvos de sua ignorância voluntária.
retirado do Samsara Blog.
domingo, 26 de julho de 2009
Nada a fazer, nenhum lugar para ir
Thich Nhat Hanh(também conhecido como Thay), um monge budista vietnamita, é quem responde a essas perguntas:
Pergunta: Eu me sinto culpado quando não estou ocupado. Está tudo bem em não fazer nada?
Thay: Na nossa sociedade, estamos inclinados a ver o “fazer nada” como algo negativo, mesmo maligno. Mas quando nos perdemos de nós mesmos em atividades, diminuímos a qualidade do nosso ser. Fazemos a nós mesmos um desserviço. É importante nos preservar para manter o nosso frescor, bom humor, nossa alegria e compaixão. No budismo cultivamos a “falta de objetivos” e de fato na tradição budista a pessoa ideal, ou arhat ou um bodisatva, é uma pessoa sem negócios (businessless), alguém que não tem lugar para ir nem nada a fazer.
As pessoas deveriam aprender como apenas estar presente, não fazendo nada. Tente passar um dia fazendo nada; chamamos isto um “dia da preguiça”. Para muitos de nós que estamos acostumados a correr disto para aquilo, um dia da preguiça é na verdade um trabalho muito difícil! Não é fácil apenas estar. Se você pode estar feliz, relaxado e sorrindo quando não está fazendo nada, você é muito forte. Não fazer nada resulta em qualidade de ser, o que é muito importante. Portanto não fazer nada, na verdade é fazer algo. Por favor, escreva e exiba em sua casa: Não fazer nada é fazer algo.
Pergunta: Meu desejo por conquistas levou a muito sofrimento. Não importa o que eu faça, nunca sinto que é suficiente. Como posso fazer as pazes comigo mesmo?
Thay: A qualidade da sua ação depende da qualidade de seu ser. Suponha que você está desejoso por oferecer felicidade, fazer alguém feliz. Esta é uma coisa boa a fazer. Mas se você não está feliz, então não pode fazer isso. Para fazer outra pessoa feliz, você tem que estar feliz. Portanto há uma ligação entre fazer e ser. Se você não for bem sucedido em ser, não pode ser bem sucedido no fazer. Se você não sente que está no caminho certo, a felicidade não será possível. Isto é verdade para todos; se você não sabe onde está indo, você sofre. É muito importante perceber seu caminho e ver seu verdadeiro modo de ser.
Felicidade significa sentir que você está no verdadeiro caminho a cada momento. Não precisa chegar ao fim do caminho para ser feliz. O caminho correto se refere a modos muito concretos de você viver sua vida a cada momento. No budismo, falamos do Nobre Caminho Óctuplo: Visão Correta, Pensamento Correto, Fala Correta, Ação Correta, Modo de Vida Correto, Esforço Correto, Atenção Plena Correta e Concentração Correta. É possível para nós viver o Nobre Caminho Óctuplo a cada momento de nossas vidas diárias. Isto não apenas nos faz feliz, mas também àqueles ao nosso redor. Se você praticar o caminho, se tornará muito agradável, com muito frescor e muito compassivo.
Olhe para a árvore no quintal da frente. A árvore parece não estar fazendo nada. Fica parada ali, vigorosa, fresca e bonita e todos se beneficiam disto. Isto é um milagre do ser. Se uma árvore fosse menos que uma árvore, todos nós estaríamos com problemas. Mas se uma árvore é apenas uma árvore real, então há esperança e alegria. É por isso que se você puder ser você mesmo, isto já é uma ação. Ação é baseada na não-ação; ação é ser.
Há pessoas que fazem muito, mas que causam muitos problemas. Quanto mais tentam ajudar, mais problemas criam mesmo se têm as melhores intenções. Elas não são pacíficas, elas não são felizes. É melhor não tentar tão duramente, mas apenas “ser”. Então a paz e a compaixão serão possíveis em cada momento. Com base nisso, tudo que você disser ou fizer somente poderão ser úteis.
Se você pode fazer alguém sofrer menos, se você pode fazê-los felizes, se sentirá recompensado e receberá muita felicidade. Sentir que você é útil, que pode ajudar à sociedade: isto é felicidade. Quando você tem um caminho e você desfruta de cada passo no seu caminho, já é alguém, não precisa se tornar outra pessoa.
No budismo, temos a prática de apranihita, não ter objetivos. Se você põe em sua frente um objetivo, estará correndo por toda a sua vida e a felicidade nunca será possível. Felicidade é possível apenas quando você para de correr e desfruta do momento presente e de quem você é. Não é necessário ser outra pessoa; você já é uma maravilha da vida.
Pergunta: Quando estou fazendo uma coisa, minha mente vagueia para a próxima coisa ou volta para a última coisa. O que posso fazer para parar de sempre pensar sobre o caminho não tomado?
Quando você recebe muitas cartas, tem que decidir qual ler primeiro. Talvez haja duas cartas que você queira ler que perecem igualmente importantes. Mesmo assim, você tem que tomar uma decisão; tem que escolher uma para pegar primeiro. Depois de tomar a decisão fique com ela.
Quando você está cruzando uma ponte, não pense na ponte que você não está cruzando. Você no futuro terá que cruzá-la, mas somente depois de cruzar esta primeiro. Esta é nossa prática. O advogado pensa apenas no cliente que ele está no momento, não o cliente que está vindo em seguida. O médico apenas pensa no paciente a sua frente. Isto é concentração, plena atenção, uma mente que aponta para um só lugar. Se você não treinou sua capacidade de trazer toda a sua atenção para apenas um objeto, então haverá dispersão e perturbação. Você tem que estar cem por cento no aqui e agora.
Pergunta: Como posso incorporar a prática da plena atenção e viver no momento presente e ao mesmo tempo fazer planos para minha vida?
Thay: A prática da plena atenção não nos proíbe de planejar nosso futuro. É melhor não nos perdermos na incerteza e medo sobre o futuro, mas se estamos verdadeiramente estabelecidos no momento presente, podemos trazer o futuro para o aqui e agora e fazer planos.
Não estamos perdendo o momento presente quando pensamos sobre o futuro. Na verdade, o momento presente contém ambos o passado e o futuro. O único material de que o futuro é feito é do presente. Se você sabe como lidar com o presente da melhor maneira que pode, isto é tudo que pode fazer pelo futuro. Lidar com o momento presente com toda a sua atenção, toda sua inteligência já é construir o futuro.
Pergunta: Como podemos praticar consistentemente a plena consciência em um mundo que parece exigir corrida e pressa aonde quer que vamos? É possível ser plenamente consciente de estar ocupado e plenamente consciente de estar com pressa?
Thay: Iniciantes acham a plena atenção fácil quando eles a fazem lentamente. Mas se sua plena consciência é mais avançada, você pode fazer as coisas mais rapidamente. Apenas tenha certeza que você está sendo consciente. Você pode andar conscientemente, mas também pode correr conscientemente. É uma questão de planejamento. Deveria se tornar um hábito planejar de tal modo que tenhamos muito tempo para fazer cada coisa e não tenhamos que correr.
Suponha que você tenha que estar no aeroporto às 10 horas. Tente planejar de forma que você tenha muito tempo. Se possível adicione outra hora de forma a ter o prazer de fazer meditação caminhando no aeroporto. Quando dirigir, ao invés de pensar sobre seu destino, aproveite cada momento enquanto dirige. Quando fizer seu café da manhã, transforme a sua preparação em uma sessão de meditação, uma prática de plena consciência. Tente não pensar sobre o que você vai fazer depois do café da manhã. Aproveite cada momento e você trará alegria para toda a família. O segredo é habitar no aqui e agora e ser feliz a cada momento.
É claro, todos temos muito a fazer. Mesmo monges e monjas têm muitas coisas a fazer. Mas aprendemos a fazê-las com alegria e a não considerar as coisas que fazemos como trabalho. Esta é uma arte para ser cultivada e cada um de nós pode fazer isto. Se soubermos como consumir menos, não teremos que trabalhar tão duramente, não precisaremos de um salário maior e um carro mais caro para sermos felizes. Se soubermos a arte de viver de forma simples, então teremos muito mais tempo para viver nossas vidas de forma feliz e ajudar outras pessoas.
(Thich Nhat Hanh – do livro “Answers from the heart”)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)
copiado do blog Sangha Virtual.
sábado, 25 de julho de 2009
Oito versos que transformam a mente
Certa vez Geshe Chekawa, um monge tibetano que dominava inúmeros ensinamentos de diversas escolas, se deparou com uma tira de papel contendo um trecho de duas linhas e se maravilhou:
Ofereça o ganho e a vitória aos outros.
Tome a perda e a derrota para si mesmo.
Então, procurou até encontrar um mestre nessas instruções: Sharawa, discípulo de Geshe Langri Thangpa (mestre Kadampa do século XII, o autor da prática). Ao questioná-lo sobre a natureza daquelas linhas, teve a resposta:
Goste ou não desse ensinamento, você só pode dispensá-lo se não quiser alcançar o Estado de Buda.
Sharawa aceitou Chekawa como discípulo e o instruiu durante anos nessa prática que era a sua principal, denominada "Os Oito Versos que Transformam a Mente" (ou "Os Oito Versos de Langri Thangpa"). Após 6 anos de treinamento constante, o discípulo se realizou, eliminando todo e qualquer traço de egoísmo.
Os oito versos são:
1. Com a determinação de alcançar
O bem supremo em benefício de todos os seres sencientes,
Mais preciosos do que uma jóia mágica que realiza desejos,
Vou aprender a prezá-los e estimá-los no mais alto grau.
2. Sempre que estiver na companhia de outras pessoas, vou aprender
A pensar em minha pessoa como a mais insignificante dentre elas,
E, com todo respeito, considerá-las supremas,
Do fundo do meu coração.
3. Em todos os meus atos, vou aprender a examinar a minha mente
E, sempre que surgir uma emoção negativa,
Pondo em risco a mim mesmo e aos outros,
Vou, com firmeza, enfrentá-la e evitá-la.
4. Vou prezar os seres que têm natureza perversa
E aqueles sobre os quais pesam fortes negatividades e sofrimentos,
Como se eu tivesse encontrado um tesouro precioso,
Muito difícil de achar.
5. Quando os outros, por inveja, maltratarem a minha pessoa,
Ou a insultarem e caluniarem,
Vou aprender a aceitar a derrota,
E a eles oferecer a vitória.
6. Quando alguém a quem ajudei com grande esperança
Magoar ou ferir a minha pessoa, mesmo sem motivo,
Vou aprender a ver essa outra pessoa
Como um excelente guia espiritual.
7. Em suma, vou aprender a oferecer a todos, sem exceção,
Toda a ajuda e felicidade, por meios diretos e indiretos,
E a tomar sobre mim, em sigilo,
Todos os males e sofrimentos daqueles que foram minhas mães.
8. Vou aprender a manter estas práticas
Isentas das máculas das oito preocupações mundanas,
E, ao compreender todos os fenômenos como ilusórios,
Serei libertado da escravidão do apego.
As oito preocupações mundanas são:
1. Desejar elogiosEsse texto foi ensinado por S.S. o Dalai Lama no Brasil em abril de 2006, no templo Zu Lai, em Cotia (SP). Confira um ensinamento completo de S.S. sobre esses versos em seu site oficial.
2. Rejeitar críticas
3. Desejar o prazer
4. Rejeitar a dor
5. Desejar o ganho
6. Rejeitar a perda
7. Desejar a fama
8. Rejeitar ser ignorado
Texto original do Samsara Blog.
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sexta-feira, 24 de julho de 2009
Tenhais confiança
"Tenhais confiança não no mestre, mas no ensinamento.
Tenhais confiança não no ensinamento, mas no espírito das palavras.
Tenhais confiança não na teoria, mas na experiência.
Não creiais em algo simplesmente porque vós ouvistes.
Não creiais nas tradições simplesmente porque elas têm sido mantidas de geração para geração.
Não creiais em algo simplesmente porque foi falado e comentado por muitos.
Não creiais em algo simplesmente porque está escrito em livros sagrados; não creiais no que imaginais, pensando que um deus vos inspirou.
Não creiais em algo meramente baseado na autoridade de seus mestres e anciãos.
Mas após contemplação e reflexão, quando vós percebeis que algo é conforme ao que é razoável e leva ao que é bom e benéfico tanto para vós quanto para os outros, então o aceiteis e façais disto a base de sua vida."
Gautama Buddha - Kalama Sutra
quinta-feira, 23 de julho de 2009
I'll go Crazy if I don't go Crazy tonight!
Vídeo da música do U2... bem legal, vale a pena :)
U2 - I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight from David OReilly on Vimeo.
She's a rainbow and she loves the peaceful life
Knows I'll go crazy if I don't go crazy tonight
There's a part of me in the chaos that's quiet
And there's a part of you that wants me to riot
Everybody needs to cry or needs to spit
Every sweet tooth needs just a little hit
Every beauty needs to go out with an idiot
How can you stand next to the truth and not see it?
A change of heart comes slow
It's not a hill, it's a mountain
As you start out the climb
Do you believe me, or are you doubting
We're gonna make it all the way to the light
But I know I'll go crazy if I don't go crazy tonight
Every generation gets a chance to change the world
Pity the nation that won't listen to your boys and girls
Cos the sweetest melody is the one we haven't heard
Is it true that perfect love drives out all fear?
The right to appear ridiculous is something I hold dear
Oh, but a change of heart comes slow
It's not a hill, it's a mountain
As you start out the climb
Listen for me, I'll be shouting
We?re gonna make it all the way to the light
But you now I'll go crazy if I don?t go crazy tonight
Baby, baby, baby, I know I?m not alone
Baby, baby, baby, I know I?m not alone
It's not a hill, it's a mountain
As we start out the climb
Listen for me, I'll be shouting
Shouting to the darkness, squeeze out sparks of light
You know we'll go crazy
You know we'll go crazy
You know we'll go crazy if we don't go crazy tonight
Oh oh
Slowly now
Oh oh
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sexta-feira, 17 de julho de 2009
O mestre agnóstico
Há uma estória indiana de um homem que era um ateu e agnóstico, um raríssimo tipo de postura na Índia. Ele era uma pessoa que desejava livrar-se de todas as formas de ritos religiosos, deixando apenas a essência da direta experiência da Verdade.
Ele atraiu discípulos que costumavam se reunir a seu redor toda semana, quando ele falava a todos sobre seus princípios. Após algum tempo eles começaram a se juntar antes do mestre aparecer, porque eles gostavam de estar em grupo e cantar juntos.
Eventualmente foi construída uma casa para as reuniões, com uma sala especial para o mestre agnóstico. Após sua morte, tornou-se uma prática entre seus seguidores fazer uma reverência respeitosa para a agora sala vazia, antes de se entrar no salão. Em uma mesa especial a imagem do mestre era mostrada em uma moldura de ouro, e as pessoas deixavam flores e incenso lá, em respeito ao mestre.
Em poucos anos uma religião tinha crescido em torno daquele homem, que em vida não praticava nada disso, e que, ao contrário, sempre disse aos seus seguidores que ficar preso a estas práticas levava freqüentemente a pessoa a se iludir no caminho da Verdade.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Sextas-feiras Zen
Olá Andarilhos,
Há muito tempo atrás encontrei uma página na internet que continha várias parábolas zen. Elas não vem "mastigadas", explicadas; Algumas são simples, outras nem tanto. Toda sexta-feira vou disponibilizar uma dessas parábolas para reflexão.
São textos bem legais que dão uma visão diferente e surpreendente sobre quem somos; trata da essência do ser humano. Espero que aproveitem assim como eu aproveitei!
Até Sexta!
sábado, 4 de julho de 2009
Andarilhos do Ser
De súbito, os caminhantes param. Eles observam a estrada adiante: há uma bifurcação. Eles sabem que é chegada a hora para cada um seguir seu próprio rumo. Eles tentam enxergar adiante, mas o caminho se torna escuro, imprevisível como o próprio futuro. É chegada a hora; como amigos nessa longa jornada, compartilharam risos e lágrimas, e aprenderam muito. O adeus é dito, e eles partem; apesar da tristeza do momento, uma certeza traz conforto ao coração: não importa aonde estejam, eles serão sempre Andarilhos do Ser. Mesmo que o fardo do Andarilho seja pesado, e sua estrada longa, eles jamais desanimarão, porque isso é o que eles são.
Andarilhos do Ser.
terça-feira, 30 de junho de 2009
a alegoria da caverna
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros – no exterior, portanto – há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam, porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidisse sair da caverna rumo à realidade.
[Platão. A Alegoria da caverna. in: A república]
retirado do blog da Thahy.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Tao Te Ching verso 1
O caminho que pode ser seguido
Não é o Caminho Perfeito.
O nome que pode ser dito
não é o Nome eterno.
No principio está o que não tem nome.
O que tem nome é a Mãe de todas as coisas.
...
Tao Te King.
O Mestre[1] não deve desejar que o discípulo siga exatamente o seu caminho, mas sim que este caminho sirva de exemplo para o discípulo seguir o seu próprio, " pois o caminho que pode ser seguido não é o caminho perfeito".
Desejar é o não ter, e aquele que não tem para si também não tem para dar, por isto se o Mestre deseja que o discípulo siga o seu caminho é porque ele não tem caminho para ser se-guido.
Aquele que segue chega depois e no Tao, no absoluto, não existem o antes e o depois.
O Mestre não deve tentar trazer o discípulo para a sua linha de compreensão, mas ir até a do discípulo e ali orientá-lo.
"Não aceite nada daquilo que vos digo; não aceite aquilo que está escrito em livros considerados sagrados; aceite somente aquilo que passou por vossa compreensão" ...BUDA.
Se um principio pode ser definido, não é Tao. Tao é um principio, a criação, por outro lado, é um processo.
O discípulo deve tomar o caminho do mestre como referencial, mas seguir sempre aquele que lhe é próprio.
Os caminhos seguem juntos mas só se unem no fim do percurso.
Seguir é imitar, imitar é reflexo e reflexo não é a coisa em si.
O marionete segue o caminho do manipulador, ele pode parecer ser quando na realidade não é. Seguir literalmente o Mestre é como ser um marionete que ativado pelas mãos do operador; parece ter vida quando na realidade não a tem, e assim sempre estará no depois.
A meta do discípulo é chegar ao Absoluto e no Absoluto, em Brahman, no Tao, não existem "depois".
O Mestre não deve almejar que o discípulo o siga como um autômato, mas tornar-se consciente, e com a mente aberta, afastar preconceitos e prevenções.
Os preconceitos não surgem sozinhos, sempre são estabelecidos por alguém. Seguir preconceitos é imitar o autor, é acompanhá-lo, é o caminhar depois e não se chega depois ao Infinito.
Um mestre é um farol orientador, um ponto de referência no caminhar, mas o caminho é de cada um.
Muitos não chegam a ser mestres porque desejam seguidores e não companheiros seguindo juntos em direção à uma meta única.
terça-feira, 16 de junho de 2009
O fardo do Cavalheiro
Por trás da busca de Confúcio da essência ideal da moral, subjaz o não-falado e, portanto, inquestionado pressuposto de que o único objetivo que um homem pode ter e também a única coisa válida que pode fazer é tornar-se um homem tão bom quanto possível. Isso é algo que tem de ser perseguido somente pelo próprio valor intrínseco e com completa indiferença quanto ao sucesso e o fracasso. retirado de Confúcio: Os Analectos, da editora L&M pocket.
Diferentemente de mestres religiosos, Confúcio não podia pregar nenhuma esperança de recompensa, neste mundo ou no outro. No que tange à vida após a morte, a atitude de Confúcio pode, na melhor das hipóteses, ser descrita como agnóstica. Quando Tzu-lu perguntou como os deuses e os espíritos deveriam ser servidos, o Mestre respondeu que, como ele não era apto a servir os homens, como poderia poderia ele servir os espíritos? E quando então Tzu-lu perguntou sobre a morte, o Mestre respondeu que, como não compreendia a vida, como poderia compreender a morte?(XI.12). Isso mostra, no mínimo, uma relutância da parte de Confúcio em se comprometer com o assunto da existência após a morte. Embora sem dar aos homens qualquer segurança de uma vida após a morte, Confúcio, entretanto, faz deles grandes exigências morais. Ele disse ao cavalheiro(君子- Jun zi) de valor e do homem benevolente que "ao mesmo tempo em que é inconcebível que eles busquem permanecer vivos graças à benevolência, pode acontecer que tenham de aceitar a morte para conseguirem realizar a benevolência"(XV.9). Quando tais exigências são feitas a homens, pouco surpreende que um dos discípulos de Confúcio tenha considerado que o fardo de um Cavalheiro "é pesado, e sua estrada, longa", pois o fardo dele é a benevolência, e a estrada só chegava ao fim com a morte (VIII.7).
"Não viveu em vão aquele que morre no dia em que descobre o Caminho" (IV.8)
segunda-feira, 25 de maio de 2009
O FAZER
Acontece todos os dias: você poderia ter feito alguma coisa, mas não fez e está usando a desculpa de que, se Deus quisesse que algo fosse feito, Ele o faria de qualquer forma. Ou então você faz algo e espera pelo resultado, fica esperando, mas o resultado nunca chega. Então você fica zangado, como se tivesse sido trapaceado, como se Deus o houvesse traído, como se Ele estivesse contra você, sendo parcial, preconceituoso, injusto. E então surge uma grande reclamação em sua mente. Nessa hora, falta confiança.
Uma pessoa religiosa é alguém que fará o que for humanamente possível, mas não criará nenhuma tensão por causa disso. Por que somo muito, muito pequenos, átomos ínfimos neste universo, as coisas são muito complicadas. Nada depende apenas da minha ação: há milhares de energias se entrecruzando. A soma dessas energias irá determinar o resultado. Como eu poderia determinar o resultado? Mas, se eu não fizer nada, pode ser que as coisas nunca mais serão as mesmas.
Tenho que agir, mas, ao mesmo tempo, tenho que aprender a não ter expectativas. Então o fazer torna-se uma espécie de oração, sem nenhum desejo de que tenha determinado resultado. Então não há frustração. A confiança irá ajudá-lo a permanecer livre de frustrações, e “amarrar seu camelo” irá ajudá-lo a manter-se vivo, intensamente vivo.
CONFIE EM ALÁ, MAS AMARRE SEU CAMELO PRIMEIRO
Esse ditado sufi deseja criar o terceiro tipo de homem, o verdadeiro homem: aquele que sabe como fazer e como não fazer; que pode ser um fazedor quando necessário, pode dizer “Sim!”, e que pode ser passivo quando necessário e dizer “Não”. Aquele que está absolutamente acordado durante o dia e absolutamente adormecido durante a noite. Aquele que sabe como inspirar e como expirar. Aquele que conhece o equilíbrio da vida.
“Confie em Alá, mas amarre seu camelo primeiro.” Este ditado vem de uma breve história.
Um mestre estava viajando com um de seus discípulos. O discípulo estava encarregado de cuidar do camelo. À noite chegaram, cansados, a um abrigo de caravanas, um caravançará. Era a tarefa do discípulo amarrar o camelo, mas ele não o fez, deixou o camelo do lado de fora. Em vez disso, ele simplesmente rezou. Disse a Deus: “Cuide do camelo” ,e foi dormir.
Pela manhã o camelo havia partido. Tinha sido roubado ou simplesmente seguiu o caminho. O mestre perguntou: “O que houve com o camelo? Onde está o camelo?”
E o discípulo respondeu: “Eu não sei. Vá perguntar a Deus, pois eu havia dito a Alá que tomasse conta do camelo, eu estava muito cansado, então não sei. E também não sou responsável, porque eu havia dito a Ele, e de forma muito clara! Não havia como não compreender. Na verdade eu não disse isso apenas uma vez, mas sim três. E você nos ensinou a confiar em Alá, então eu confiei. Por isso não me lance esse olhar de raiva.”
O mestre disse: Confie em Alá mas amarre seu camelo primeiro, porque Alá não tem outras mãos a não ser as suas.”
Se Ele quiser amarrar o camelo, Ele terá que usar as mãos de alguém. Ele não tem outras. E é o seu camelo! A melhor maneira, e também a mais fácil, é usar as mãos. Confie em Alá – não confie apenas nas suas mãos, pois do contrário você ficará tenso. Amarre o camelo e então confie em Alá. Você perguntará: “Então por que confiar em Alá enquanto estou amarrando meu camelo?” Porque mesmo um camelo amarrado pode ser roubado. Faça o que puder fazer, mas isso não garante resultado, não há garantias. Então faça o que puder e aceite aquilo que acontecer. Esse é o sentido de amarrar o camelo: faça o que for possível fazer, não fuja de suas responsabilidades e, se nada acontecer ou se algo der errado, confie em Alá. Então Ele terá razão. Então talvez seja correto continuarmos a viagem sem o camelo.
É muito fácil confiar em Alá e ser preguiçoso. É muito fácil não confiar em Alá e ser um fazedor. O terceiro tipo de homem é o mais difícil: aquele que confia em Alá e ainda assim permanece um fazedor. Mas nesse momento você é apenas um instrumento: Deus é aquele que verdadeiramente faz, você é um instrumento em Suas mãos.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Vícios Pessoais
Eram duas horas da tarde. Não se ouvia nenhum ruído, e Petrus começou:
"Tende piedade, Senhor, porque somos peregrinos a caminho de Compostela, e isto pode ser um vício. Fazei em vossa infinita piedade com que jamais consigamos virar o conhecimento contra nós mesmos"
"Tende piedade dos que têm piedade de si mesmos, e se acham bons e injustiçados pela vida, porque não mereciam as coisas que lhe aconteceram - pois estes jamais vão conseguir combater o Bom Combate. E tende piedade dos que são cruéis consigo mesmos, e só vêem maldade nos próprios atos, e se consideram culpados pelas injustiças do mundo. Porque estes não conhecem Tua lei que diz: "até os fios de tua cabeça estão contados".
"Tende piedade dos que mandam e dos que servem muitas horas de trabalho, e se sacrificam a troco de um domingo onde está tudo fechado e não existe lugar aonde ir. Mas tende piedade dos que santificam sua obra e vão além dos limites de sua própria loucura, e terminam endividados ou pregados na cruz por seus próprios irmãos. Porque eles não conheceram Tua lei que diz: 'sede prudente como as serpentes e simples como as pombas'".
"Tende piedade porque o homem pode vencer o mundo e nunca travar o Bom Combate consigo mesmo. Mas tende piedade dos que venceram o Bom Combate consigo mesmos, e agora estão pelas esquinas e bares da vida, porque não conseguiram vencer o mundo. Porque estes não conheceram a Tua lei que diz: ´quem observa minhas palavras tem que edificar sua casa na rocha´".
"Tende piedade dos que têm medo de segurar na pena, no pincel, no instrumento, na ferramenta, porque acham que alguém já fez melhor que eles, e não se sentem dignos de entrar na mansão portentosa da Arte. Mas tende mais piedade dos que seguraram na pena, no pincel, no instrumento e na ferramenta, e transformaram a Inspiração numa forma mesquinha de se sentirem melhores do que os outros. Estes não conheceram Tua lei que diz:'nada está oculto senão para ser manifesto, e nada se faz escondido senão para ser revelado'".
"Tende piedade dos que comem, e bebem, e se fartam, mas são infelizes e solitários em sua fartura. Mas tende mais piedade dos que jejuam, censuram, proíbem e se sentem santos, e vão pregar Teu nome pelas praças. Porque não conheceram Tua lei que diz:'se eu testifico a respeito de mim mesmo, meu testemunho não é verdadeiro'".
"Tende piedade dos que temem a Morte e desconhecem os muitos reinos que caminharam e as muitas mortes que já morreram, e são infelizes porque pensam que tudo vai acabar um dia. Mas tende mais piedade dos que já conheceram suas muitas mortes, e hoje se julgam imortais, porque desconhecem Tua lei que diz:'quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus'".
"Tende piedade dos que se escravizam pelo laço de seda do Amor, e se julgam donos de alguém, e sentem ciúmes, e se matam com veneno, e se torturam porque não conseguem ver que o Amor muda como o vento e como todas as coisas. Mas tende mais piedade dos que morrem de medo de amar, e rejeitam o amor em nome de um Amor Maior que eles não conhecem, porque não conhecem Tua lei que diz:'quem beber desta água, nunca mais tornará a ter sede'".
"Tende piedade dos que reduzem o Cosmos a uma explicação, Deus a uma poção mágica, e o homem a um ser com necessidades básicas que precisam ser satisfeitas, porque estes nunca vão ouvir a música das esferas. Mas tende mais piedade dos que possuem a fé cega, e nos laboratórios transformam mercúrio em ouro, e estão cercados de livros sobre os segredos do tarot e o poder das pirâmides. Porque estes não conhecem Tua lei que diz:'é das crianças o reino dos céus'".
"Tende piedade dos que não vêem ninguém além de si mesmos, e para quem os outros são um cenário difuso e distante quando passam pela rua em suas limusines, e se trancam em escritórios refrigerados no último andar, e sofrem em silêncio a solidão do poder. Mas tende piedade dos que abriram mão de tudo, e são caridosos, e procuram vencer o mal apenas com amor, porque estes desconhecem Tua lei que diz:'quem não tem espada, que venda sua capa e compre uma'".
"Tende piedade, Senhor, de nós que buscamos e ousamos empunhar a espada que prometesses, e que somos um povo santo e pecador, espalhado pela terra. Porque não reconhecemos a nós mesmos, e muitas vezes pensamos que estamos vestidos e estamos nus, pensamos que cometemos um crime e na verdade salvamos alguém. Não vos esqueceis em vossa piedade de todos nós que empunhamos a espada com a mão de um anjo e a mão de um demônio segurando no mesmo punho. Porque estamos no mundo, e continuamos no mundo e precisamos de Ti. Precisamos sempre de Tua lei que diz:'quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, nada vos faltou'".
retirado do livro "O diário de um mago" de Paulo Coelho.
terça-feira, 19 de maio de 2009
Ajude as vítimas da enchente no Ceará
Acompanham os jornais? A tv? Estão vendo esse movimento de comoção nacional em prol das vítimas das enchentes no norte-nordeste? Não? Eu também não.
Desde o início de abril, as regiões Norte e Nordeste sofrem com uma temporada de chuvas que já atingiu mais de 300 municípios. O número de desabrigados, até o momento, ultrapassa 184 mil pessoas, mais do que o dobro das vítimas de Santa Catarina em 2008, que na época uniu o país e seus veículos de comunicação. Inclusive, na época, a Cruz Vermelha aqui do Estado do Ceará foi a primeira a iniciar campanha de arrecadação de alimentos, como bem lembrou o Gabriel do Silenzio de onde eu captei essas informações.
Para completar a catástrofe, cidades inteiras estão ilhadas, sem acesso às capitais e pessoas correm risco de morte por não poder se deslocar para hospitais no litoral. Colheitas estão perdidas, rebanhos mortos e várias indústrias estão comprometidas, ocasionando em um prejuízo econômico ainda incalculado.
Como posso ajudar?
Esse fim de semana, o Emílio Moreno do Liberdade Digital, divulgou a campanha da Coelce, operadora de Energia do Estado, que se comprometeu a DOBRAR cada doação feita às vítimas.
Então começou uma campanha massiva nos blogs e twitter para divulgar isso e incentivar as doações. Inclusive já foi criado o google maps dos locais de doação de mantimentos.
Se você tem um blog, twitter, orkut ou até um amigo ao seu lado que não despertou para catástrofe que está ocorrendo nesse momento, ajude, divulge, doe.
Além das lojas da COELCE, as doações também poderão ser feitas nos seguintes locais:
Doações em dinheiro
Conta da Cruz Vermelha nas instituições com maior penetração no Nordeste:
Caixa Econômica Federal
Ag.: 3281; Operação: 003; C/C: 300-1
Banco do Brasil
Ag.: 3515-7; C/C: 11024-8
Banco do Nordeste
Ag.: 016; C/C: 29393-8
Outras doações (alimentos, roupas e mantimentos)
Agências do Banco do Nordeste
Lojas de atendimento da Coelce
O POVO
Avenida Aguanambi, 282 - José Bonifácio
Fone: (85) 3255 6101
TV Jangadeiro
Endereço: Av Antônio Sales, 2811, Dionísio Torres
Secretarias Executivas Regionais (SERs) de Fortaleza
www.fortaleza.ce.gov.br
Corpo de Bombeiros do Ceará
Fones: (85) 3101 2227, 3101 1078, 3101 2018, 3101 2018, 3101 5662 ou 3392 1195.
Sede da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL)
Endereço: Rua 25 de Março, 882, Centro
Sede da Federação das Indústrias (FIEC)
Endereço: Av. Barão de Studart, 1980, Aldeota
Rede Bancária
Agências do Banco do Nordeste (BNB), Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal
Outros estabelecimento
Casas lotéricas, Agências dos Correios, Supermercados Extra e Supermercados Pão de Açúcar
Núcleos do Serviço Social da Indústria (SESI)
www.fiec.org.br/sesi
Cruz Vermelha
Endereço: rua Dr. José Lourenço, 3280, Joaquim Távora
Aberto das 9 às 17 horas
Telefone: (85) 3472 3535
retirado do sedentário. Leia mais >>
quinta-feira, 7 de maio de 2009
O Céu, o Inferno e a Montanha Russa
Acho que em todas as religiões podemos encontrar descrições de Paraísos e Infernos, onde somos levados após a morte. Alguns tem níveis, demônios, anjos... mas eu fiquei realmente encantado com a visão do zen budismo sobre o assunto.
Existe uma parábola zen onde um samurai muito leal tinha acabado de sair de uma guerra. Ele confrontava a morte em muitas batalhas, e não sentia medo. Porém, ele não sabia como encontrar as portas que levam ao Paraíso, para não escolher as que levam ao Inferno quando morresse. Então disseram que havia um monge muito sábio que poderia lhe dar a resposta. Ele foi até o monastério, subiu as escadarias e deu de cara com o tal monge, que estava meditando. Perguntou a ele então: “Como posso encontrar as portas que levam ao Paraíso e as portas que levam ao Inferno?” O monge respirou fundo, então disse: “um mendigo ignorante como você jamais entenderia tal coisa.”
Ora, que petulância! Aquele monge tinha ofendido o samurai profundamente. Cheio de raiva, ele sacou a espada, e estava prestes a decapitar o monge. Porém o monge nem ao menos se moveu. Quando a lâmina estava próxima de sua garganta, ele disse: “Estes são os portais do Inferno”. Conforme disse isso, o samurai voltou a si, e toda a raiva se foi. Então ele embainhou novamente a espada. “Estes”, disse o monge, “São os portais do Paraíso”.
O que essa bonita história quer dizer é que existe um Paraíso e um Inferno dentro de nós. As religiões dizem que se pecarmos iremos para o Inferno, mas eu acredito que isso acontece muito mais rápido – quando pecamos, já estamos no Inferno.
Por quê? Porque quando agimos como o samurai, tomado pela raiva, perdemos nossa liberdade - não era o samurai, mas a raiva que agia. Isso é o Inferno. E não é somente a raiva que nos tira a liberdade. O desejo é que vive nas pessoas que passam suas vidas perseguindo dinheiro, fama e mulheres(homens) para poder dizer que "estão felizes". Mas elas nunca estarão felizes, porque essas coisas não trazem a felicidade - elas só podem ser usufruídas por quem já a possui.
Segundo o Dalai Lama, a verdadeira felicidade é a paz de espírito. E eu concordo com ele. Um homem pode ter tudo e ser miserável, ter nada e ser pleno. Nossa vida é uma montanha russa de emoções, se você parar para reparar: num momento estamos calmos, então alguém nos ofende e estamos com raiva; noutro vemos algo e ficamos cheios de desejo. Em outro ainda estamos com quem amamos e estamos bem; depois estamos sozinhos e estamos mal. Estamos sempre buscando momentos de alegria e prazer, e evitando a dor. Mas mesmo fazendo isso, não encontramos felicidade – porque a felicidade é diferente da alegria. Enquanto a alegria dura pouco e é intensa, a felicidade é constante. Uma pessoa pode estar alegre ou triste, é passageiro; Uma pessoa é ou não é feliz. Sendo assim, uma pessoa feliz pode estar triste. A tristeza e a dor são partes da vida, e são tão passageiras quanto a alegria e o prazer.
E esse estado constante de felicidade, essa paz interior, é o Paraíso. Muitos acham estranho aqueles que largam tudo e se dedicam a Deus, mas para quem compreende isso é algo normal. Quem conhece essa felicidade descobriu um tesouro, e esse tesouro é maior que tudo. O homem comum acha isso um absurdo...
A paz de espírito sempre foi o objetivo das religiões, mas ela não está em nenhuma igreja nem credo que você procurar. O único lugar onde pode ser encontrada é dentro de você ;)
Até mais, andarilhos!
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Fonte de Alegria Permanente
mais um do Samsara blog.
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Podemos ficar confusos e pensar que o outro é a fonte de nosso deleite – a pílula de amor a ser engolida. O amor mal compreendido torna-se apego obstinado. Acreditamos que o objeto de nosso amor é uma permanente fonte de alegria. Voltamos e continuamos querendo mais. Estamos confundindo amor com fixação, que traz sofrimento, e não alegria. A fonte de alegria permanente é nosso amor, não a outra pessoa.Sakyong Mipham Rinpoche (1962~)
Estar apaixonado por alguém em particular ajuda-nos a conhecer a alegria que emana quando cuidamos da felicidade dos outros. Pensamos em como deixar a pessoa feliz – o que lhe dar, o que dizer, o que fazer. Mas o verdadeiro amor não depende de nenhum objeto. O verdadeiro amor é a energia natural da mente estabilizada, um recurso inexaurível que cultivamos.
"Governe seu Mundo" Leia mais >>
quarta-feira, 29 de abril de 2009
O sermão na Montanha, por Eliphas Levi
Um texto pouco conhecido do Eliphas Levi, que mostra um pouco do lado Martinista deste Mago.
“Depois de Jesus ter repelido numa visão todas as coroas da Terra que lhe eram oferecidas pelo gênio do mal, a quem elas pertenciam, e que lhe propunha comprar a tirania ao preço de escravidão, como estava na lei do velho mundo; Depois de ter dominado a fome, o orgulho e a ambição do poder, Jesus, o conquistador pacífico, subiu a montanha, e, cercado de pastores e pecadores, começou seu primeiro discurso: Bem-aventurados aqueles que são pobres de espírito, porque a eles pertence o reino dos céus! Isso queria dizer: Infelizes os escravos da riqueza egoísta, porque só acumularão a miséria eterna! Bem-aventurados aqueles que são dóceis, porque possuirão a terra! É como se dissesse: Infelizes os que querem reinar sobre a terra pela violência, porque o poder lhes escapará! Bem-aventurados aqueles que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Pobres e deserdados, esperai pois! o cristianismo vos abre a porta de um futuro feliz. Bemaventurados os misericordiosos, porque obterão a misericórdia! Compreendemos que a frase acima quer dizer também: Infelizes os homens sem piedade, porque não haverá piedade para eles! Bemaventurados aqueles que têm o coração puro, porque verão Deus! Deus é a verdade e a justiça. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados de filhos de Deus! Um de nossos poetas disse: o amor é mais forte do que a guerra. A força bruta passará e se consumirá, mas a razão calma e senhora de si mesma triunfará e terá sempre um novo poder! Bem-aventurados aqueles que sofrem perseguição pela justiça, porque a eles pertence o reino do céu! É perdoando que os mártires provam sua realeza. Quem persegue, abdica, e quem sofre, resiste. Resistir é poder, e poder é reinar. Não vim para destruir, mas para realizar, dizia ainda o filho do carpinteiro, declarando-se assim o iniciador do progresso.
O que dizia então ao judaísmo podemos dizê-lo ao catolicismo, nós, os homens do progresso religioso; nós, seus discípulos e continuadores de sua obra! Se vossa justiça, dizia ele, não é mais rica que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus, e podemos dizer: Se não sois melhores e mais justos que os mais ardentes do
velho mundo e da Idade Média, não entrareis na associação universal do cristianismo realizado. Cristo disse: Aquele que injuriar seu irmão merecerá condenação; e nós dizemos: Aquele que não cuidar de seu irmão e que tratar como estranho um só membro da família humana, merecerá ser renegado pela família e terá lugar no julgamento dos fratricidas. Cristo disse: Perdoai sempre, e nós dizemos: Não vos ofendais mesmo com o mal que vos possam fazer. Os maus são doentes, tratai-os e não vos irriteis contra eles. Ele disse: Prestai atenção, antes do vosso sacrifício, se vosso irmão não tem alguma coisa contra vós e ide reconciliar-vos com ele antes de vossa
prece. E dizemos: Antes de vos sentardes à mesa perguntei a vosso irmão se não precisa de nada; dai primeiramente uma parte de vosso pão a quem não o tem, em seguida sentai no banquete da comunhão e Deus vos reconhecerá como seus filhos.
Ele disse: Aquele que abandona sua mulher é um adúltero, e aquele que rechaça sua companheira a impele à prostituição. E nós dizemos: Aquele que prostitui uma mulher, ultraja sua mãe, e aquele que casa sua filha por dinheiro, vende sua filha, e aquele que compra ou vende uma mulher, a prostitui; porque a essência do casamento é o amor e as relações conjugais sem amor são a impureza. Cristo disse: Não jureis, mas que vossa palavra seja sagrada. E nós dizemos: Para que a palavra seja sagrada é necessário que ela seja livre. Libertemos a inteligência; não fechemos a boca senão à mentira. Aquele que sufoca a palavra verdadeira é um deicida. Condenar não é responder. Perseguir uma idéia é sancioná-la. Um homem inteligente que fala fora de tempo pode não ter razão, para julgar é preciso ouvi-lo. Aquele que é forçado a se calar tem sempre razão. Quanto à perversidade e à estupidez, o próprio bom senso impõe-lhes silêncio. Ele disse: Oferece a face esquerda se te baterem na direita; e se te tomarem a túnica, abandona também teu manto. E nós dizemos a nossos irmãos: Quando vos caluniarem por ter dito a verdade ireis vos expor ainda à injustiça, e quando tiverdes sofrido a injúria e a calúnia, ireis vos expor com júbilo à miséria e à morte no desprezo. Quanto mais vossos inimigos vos batem, mais eles enfraquecem; quanto mais sofreis, mais sois fortes. Cristo disse: Não sejais hipócritas. E nós dizemos: Prestai solicitude a todos, falai menos de moral e sede menos infames. Sede francos e modestamente homens, e não procureis encobrir as torpezas da estupidez sob as asas de um anjo. Ele disse: Não se pode servir a Deus e ao dinheiro. E nós dizemos:
A propriedade não se faz respeitar quando não tem por origem o trabalho e por regra a fraternidade na associação. Ele disse: Não julgueis e não sereis julgados. E nós dizemos: Operai a transformação da penalidade em higiene moral, levantai aquele que cai e não batais nele; daí às enfermidades morais tratamentos morais, e não punições ímpias; não gireis em um círculo sangrento punindo o homicídio, porque agindo dessa forma dais de algum modo razão aos assassinos e perpetuais uma guerra de canibais. Se quereis que o homicídio seja realmente um crime, fazei com que não seja jamais um direito, e lembrai-vos desse condenado que dizia: Assassinando, arrisquei minha cabeça; vós ganhais, eu pago: estamos quites. E em seu pensamento acrescentava: Somos iguais. Cristo disse: Procurai primeiramente o reino de Deus e sua justiça e o resto vos será dado por acréscimo. E nós dizemos: O reino de Deus não é o reino da fome para Lázaro e das orgias do rico mau. O reino de Deus é o sol para todos, e a terra para todos é a fraternidade do trabalho, é a prostituição tornada impossível pelo respeito à mulher, é a escada social acessível, em todos os seus degraus, ao trabalho e mérito de todos. É o trabalho para todos; é a família para todos, é a propriedade para todos, é o reino da razão, é o sacerdócio do amor, é a comunhão de cada um em todos e de todos em cada um, é a unidade divina e humana, Deus vivo na humanidade, o Cristo ressuscitado e vivo no grande corpo do povo cristão; a liberdade progressiva e submetida à ordem, a igualdade relativa na ordem da hierarquia e a fraternidade distribuindo tudo a todos, segundo as leis da harmonia, que é a eterna sabedoria.
créditos ao Teoria da Conspiração.
domingo, 26 de abril de 2009
Qual é o seu segredo?
Existe um conto indiano que narra a seguinte história:
Um discípulo procura o seu mestre e lhe pergunta:
- mestre, qual é o seu segredo para nunca se enfurecer e ser sempre amável?
E o mestre lhe respondeu:
- não sei se posso falar sobre o meu segredo, mas eu sei qual é o seu...
E o discípulo curioso, perguntou:
- e qual é o meu segredo?
Compenetrado, o mestre disse: você vai morrer em uma semana.
Assustado com as palavras do mestre, o discípulo procurou, na semana seguinte, tratar os amigos e os familiares com muita afeição e, no sétimo dia, deitou-se em sua cama e pediu que chamassem o seu mestre. Quando este chegou, o discípulo lhe disse: “abençoe-me, sábio mestre, pois estou morrendo”.
Após abençoar o discípulo, o mestre lhe perguntou: “e como você passou a semana? Brigou com a família, com os amigos?”
E o discípulo lhe respondeu: “obviamente que não. Eu os amei intensamente.”
Após ouvir isso, o mestre lhe falou: você acabou de descobrir o meu segredo. Eu sei que posso morrer a qualquer momento, por isso, procuro ser sempre amável com todas as pessoas de minhas relações.”
copiado do blog do Adilson Marques.