quinta-feira, 7 de maio de 2009

O Céu, o Inferno e a Montanha Russa

Acho que em todas as religiões podemos encontrar descrições de Paraísos e Infernos, onde somos levados após a morte. Alguns tem níveis, demônios, anjos... mas eu fiquei realmente encantado com a visão do zen budismo sobre o assunto.


Existe uma parábola zen onde um samurai muito leal tinha acabado de sair de uma guerra. Ele confrontava a morte em muitas batalhas, e não sentia medo. Porém, ele não sabia como encontrar as portas que levam ao Paraíso, para não escolher as que levam ao Inferno quando morresse. Então disseram que havia um monge muito sábio que poderia lhe dar a resposta. Ele foi até o monastério, subiu as escadarias e deu de cara com o tal monge, que estava meditando. Perguntou a ele então: “Como posso encontrar as portas que levam ao Paraíso e as portas que levam ao Inferno?” O monge respirou fundo, então disse: “um mendigo ignorante como você jamais entenderia tal coisa.”

Ora, que petulância! Aquele monge tinha ofendido o samurai profundamente. Cheio de raiva, ele sacou a espada, e estava prestes a decapitar o monge. Porém o monge nem ao menos se moveu. Quando a lâmina estava próxima de sua garganta, ele disse: “Estes são os portais do Inferno”. Conforme disse isso, o samurai voltou a si, e toda a raiva se foi. Então ele embainhou novamente a espada. “Estes”, disse o monge, “São os portais do Paraíso”.

O que essa bonita história quer dizer é que existe um Paraíso e um Inferno dentro de nós. As religiões dizem que se pecarmos iremos para o Inferno, mas eu acredito que isso acontece muito mais rápido – quando pecamos, já estamos no Inferno.

Por quê? Porque quando agimos como o samurai, tomado pela raiva, perdemos nossa liberdade - não era o samurai, mas a raiva que agia. Isso é o Inferno. E não é somente a raiva que nos tira a liberdade. O desejo é que vive nas pessoas que passam suas vidas perseguindo dinheiro, fama e mulheres(homens) para poder dizer que "estão felizes". Mas elas nunca estarão felizes, porque essas coisas não trazem a felicidade - elas só podem ser usufruídas por quem já a possui.

Segundo o Dalai Lama, a verdadeira felicidade é a paz de espírito. E eu concordo com ele. Um homem pode ter tudo e ser miserável, ter nada e ser pleno. Nossa vida é uma montanha russa de emoções, se você parar para reparar: num momento estamos calmos, então alguém nos ofende e estamos com raiva; noutro vemos algo e ficamos cheios de desejo. Em outro ainda estamos com quem amamos e estamos bem; depois estamos sozinhos e estamos mal. Estamos sempre buscando momentos de alegria e prazer, e evitando a dor. Mas mesmo fazendo isso, não encontramos felicidade – porque a felicidade é diferente da alegria. Enquanto a alegria dura pouco e é intensa, a felicidade é constante. Uma pessoa pode estar alegre ou triste, é passageiro; Uma pessoa é ou não é feliz. Sendo assim, uma pessoa feliz pode estar triste. A tristeza e a dor são partes da vida, e são tão passageiras quanto a alegria e o prazer.

E esse estado constante de felicidade, essa paz interior, é o Paraíso. Muitos acham estranho aqueles que largam tudo e se dedicam a Deus, mas para quem compreende isso é algo normal. Quem conhece essa felicidade descobriu um tesouro, e esse tesouro é maior que tudo. O homem comum acha isso um absurdo...
A paz de espírito sempre foi o objetivo das religiões, mas ela não está em nenhuma igreja nem credo que você procurar. O único lugar onde pode ser encontrada é dentro de você ;)

Até mais, andarilhos!

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