terça-feira, 16 de junho de 2009

O fardo do Cavalheiro

Por trás da busca de Confúcio da essência ideal da moral, subjaz o não-falado e, portanto, inquestionado pressuposto de que o único objetivo que um homem pode ter e também a única coisa válida que pode fazer é tornar-se um homem tão bom quanto possível. Isso é algo que tem de ser perseguido somente pelo próprio valor intrínseco e com completa indiferença quanto ao sucesso e o fracasso.


Diferentemente de mestres religiosos, Confúcio não podia pregar nenhuma esperança de recompensa, neste mundo ou no outro. No que tange à vida após a morte, a atitude de Confúcio pode, na melhor das hipóteses, ser descrita como agnóstica. Quando Tzu-lu perguntou como os deuses e os espíritos deveriam ser servidos, o Mestre respondeu que, como ele não era apto a servir os homens, como poderia poderia ele servir os espíritos? E quando então Tzu-lu perguntou sobre a morte, o Mestre respondeu que, como não compreendia a vida, como poderia compreender a morte?(XI.12). Isso mostra, no mínimo, uma relutância da parte de Confúcio em se comprometer com o assunto da existência após a morte. Embora sem dar aos homens qualquer segurança de uma vida após a morte, Confúcio, entretanto, faz deles grandes exigências morais. Ele disse ao cavalheiro(君子- Jun zi) de valor e do homem benevolente que "ao mesmo tempo em que é inconcebível que eles busquem permanecer vivos graças à benevolência, pode acontecer que tenham de aceitar a morte para conseguirem realizar a benevolência"(XV.9). Quando tais exigências são feitas a homens, pouco surpreende que um dos discípulos de Confúcio tenha considerado que o fardo de um Cavalheiro "é pesado, e sua estrada, longa", pois o fardo dele é a benevolência, e a estrada só chegava ao fim com a morte (VIII.7).

"Não viveu em vão aquele que morre no dia em que descobre o Caminho" (IV.8)

retirado de Confúcio: Os Analectos, da editora L&M pocket.


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