quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Interpretação da parábola do filho pródigo III

O jovem, aparentemente, regressou para donde viera; na realidade, porém, esse regresso foi um super-gresso; o ponto da sua volta não coincidiu com o ponto da sua partida; não fechou simplesmente um círculo, abriu uma grande espiral, cujo termo de chegada está imensamente acima do termo de partida; o regresso superou o egresso, porque entre este e aquele acontece um ingresso.Entre a partida e a chegada houve uma gigantesca evolução – a jornada cósmica que vai da culpa através do sofrimento até a redenção.
Para celebrar esse grande acontecimento – a autocompreensão e auto-realização de um homem – o Evangelho recorre a tudo quanto possa simbolizar suprema alegria e solenidade: abraços, beijos, anel precioso, deslumbrante vestuário, lauto festim, músicas e bailados. É que a realização de um único homem é um fenômeno mais grandioso que todos os astros e galáxias do Universo. Deus creou todas as grandezas do cosmos – mas um único homem plenamente realizado é um Universo de creatividade acima de todas as creatitudes...
Quando se estava celebrando essa grande harmonia, aparece uma aguda dissonância: o filho mais velho, que estagnara na sua evolução e continuara a marcar passo na inexperiência, revelou-se incapaz de compreender a linha ascencional evolutiva de seu irmão, que culminou em suprema verticalidade. Nem aceita a palavra “teu irmão”, mas a substitui por “teu filho”. De fato, o jovem realizado não era mais “irmão” dele; não havia nenhuma afinidade espiritual entre eles; ele era apenas “teu filho”, um filho de Deus, sem afinidade com outros filhos de Deus. O filho mais velho se queixa de nunca ter sido recompensado por sua obediência de muitos anos, ao passo que o outro, auto-realizado, nada sabe de recompensa, de espírito mercenário. Quem encontrou o seu verdadeiro ser nada mais sabe do ilusório ter. Quem realizou o seu ser só conhece amor, e nada sabe de recompensa.
O poema do filho pródigo marca o zênite da genialidade do Nazareno,quando considerado à luz do drama cósmico da auto-realização do homem e da evolução multimilenar da humanidade.
O filho mais velho representa um ser humano que, longe de atingir as alturas da individualidade do Eu divino nem sequer despertara para a personalidade do seu ego humano. E quem não tem consciência do seu ego não é possuidor de nada, como os seres da natureza, que nada sabem de posse ou possessividade.
Por isso, diz muito bem o Pai, que simboliza Deus. “Tudo que é meu é teu”. Tudo que é de Deus é também do mundo infra-humano – mineral, vegetal, animal – mas esse mundo nada sabe de “meu”. O infra-ego não possui nada, nem sequer um “cabrito”. A consciência do “meu” é um corolário do pequeno “eu” personal ou ego.
O filho mais novo havia chegado à ego-consciência personal e a tinha superado, atingindo as alturas da Eu-consciência cósmica.
O hino místico Exultet, que se canta anualmente na véspera ou manhã de Páscoa, exclama: “O Felix culpa! O vere necessarium Adae peccatum, quod talem et tantum meruisti redemptorem!” (Ó culpa feliz! Ó pecado de Adão realmente necessário, que tal e tão grande Redentor mereceste!).
Poderá haver culpa feliz? Haverá pecado necessário?
Em face da teologia analítica, isto é blasfemo – mas à luz da visão da mística intuitiva, isto é sublime. Culpa e pecado simbolizam o estágio evolutivo do homem através do ego em demanda do Eu. A nossa humanidade da ego-personalidade já está no plano horizontal da “culpa feliz” e do “pecado necessário”; falta-lhe superar esse plano e atingir a plenitude vertical da sua redenção.
Após o subego, a kundalini, enrolada e dormente, acordará como ego rastejante no plano horizontal, “comendo do pó da terra” – no superego, ou Eu, kundalini se ergue à plenitude vertical da sua auto-realização.
A história do filho pródigo encerra uma metafísica de infinita profundidade e uma mística de inaudita sublimidade.


Simplesmente isso, sem comentárioas adjacentes...o Humberto conseguiu chegar a um ponto que poucos chegaram com essa parábola, como eu nunca tinha visto antes.

Texto escrito por Humberto Rohden, retirado do livro Sabedoria das Parábolas, editado pela Martin Claret.


2 comentários:

  1. Credo cara, fenomenal essa interpretação. O que eu tinha conhecimento é q o filho mais velho representava o povo de israel, e o filho mais novo representava os povos pagães ou coisa assim. Mas com certeza essa explicação vai muito além do que as primeiras aparências permitem capitar...
    valeu o esforço hein?
    abraços, parabéns!

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  2. eh brow, com certeza essa visão é totalmente diferente de td q eu jamais vi, o Humberto realmente chego na culminância dos significados, como vc mesmo disse, além de qlq aparência da parábola...
    realmente o esforço de transcrevê-la não se compara ao valor espiritual q ela agrega =]
    q esse blog continue a germinar bons frutos em nossos espíritos.
    abraços!!

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